editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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quinta-feira, abril 28, 2005

Crônica para o amanhã, ou de como se deve abençoar um novo lar

Amanhã lavarei o chão de um novo lar. Escolherei sabão pelo aroma, e não pelo preço, da mesma maneira como fazemos com xampu e sabonete para o próprio corpo. Amanhã limparei o chão que pisarei – impiedoso que sou – até que meus caminhos fiquem grafados na ardósia verde. De tão verde que vou imaginar um mar da mesma cor, mais pelo carinho que se deve ter para com o próprio chão que pelo absurdo da comparação.

Amanhã, esfregarei um novo chão com semelhante cuidado ao que se costuma fazer com as costas de um bem – se bem houver! – usando não mais que a força necessária, mas se demorando no esmero. E quando terminar – isso é bobeira, eu sei! – deitarei na ardósia fria, nu se precisar, e pensarei ouvir Bethânia me sussurrando os versos do Vinicius, e estes dizendo, “seja leve, Thiago, deixe a bagagem lá fora”. Assim, quando mais tarde me procurarem visitar aqueles que são de visita, serei novo. E não simplesmente o “eu” de novo.

Deixarei no outro lar seus dissabores, bem como os sabores, que prefiro acreditar, foram muitos, foram mais. Amanhã, verei dentro dos olhos vazios, sem mobília, do outro lar. Um grande oco, mas pleno de um tal futuro. E lá, darei uma longa gargalhada para que, no eco, possa atestar o óbvio: há muitos, ao meu lado, a gargalhar comigo.

quinta-feira, abril 21, 2005

o trabalho enobrece?

Não, este não é mais um surto. Gosto mesmo de trabalhar. Afinal, o que mais poderia nos dar experiências de vida tão singulares quanto essa que lhes relato abaixo?

Como muitos sabem, trabalho numa empresa de comunicação de referência no meio BraZiliense! Faço pesquisas, e muitas delas online, posto que boa parte dos arquivos dos jornais está disponível nos respectivos sites. Pois bem, certo dia, o querido diretor deste querido jornal BraZiliense, pediu, ou melhor, exigiu, “pra ontem!” (“infelizmente, doutor XYZ, não posso ajudar, ontem já passou, e hoje é outro dia”...ai, ai...um dia eu falo!), uma reportagem, de 2002, de um jornal carioca – por ética, não revelarei o nome, mas digo que é um jornal que quase foi o melhor Jornal do Brasil, e, portanto, o chamarei de JB. Claro que o padroeiro dos jornais, Santo Murphy, não deixaria de aplicar suas Leis: o JB não disponibilizava, naquele momento, apenas e tão somente o ano de 2002.
Tive de procurar informações sobre quando voltaria ao ar este serviço. Lista telefônica em mãos liguei para o JB do Rio (o telefone não atendia nunca), depois para o JB sucursal Brasília, onde falei com Robério, que me passou para Ronaldo, que me deu um telefone “seguro” para me informar. No telefone “seguro”, do Rio, o telefone não atendia nunca (novamente). Deve ser o costume local! Voltei ao Ronaldo, de Brasília, que me remeteu novamente ao Robério, que me deu outro telefone. Ah, este sim... só dava ocupado (liguei durante quase meia hora). Voltei ao Robério, que tentou me remeter ao Ronaldo, que tinha saído (“acho que ele não volta mais”, disseram...pobre do Ronaldo! Será grave?).

Já pensando em cometer homicídio qualificado, Pedro (funcionário daqui, do CEDOC, de Brasília), me deu um telefone. Este sim “seguro”. “Dou-lhe a cara e a outra face”, me disse em tom de bravata (juro que já ouvi algum ditado parecido!). No número em questão, do Rio, me encontrei com a voz de gralha de Estela (nada pessoal, mas tive de afastar o fone pelo menos cinco centímetros de minha orelha para não ofender meus tímpanos), que me informou “seguramente”, que não poderia me informar absolutamente nada de “forma segura”, mas que, se Deus quisesse (é isso que dá morar aos pés do Redentor), a página estaria de volta em meados de junho...!!! “Mas por conta de quê a página não está funcionando à contento?”, perguntei, aguardando uma resolução, no mínimo, profissional (ora, este não foi o maior Jornal do Brasil?) “Manutenção!”, ela decretou seguramente! “Mas do quê, das máquinas, da página, do servidor, do conteúdo...?”, “Uai (ela não era carioca?), manutenção é manutenção, oras...!” (grande Estela! Me ensinou que para o não entendedor, palavra nenhuma bastaria...)

Enfim, ganho pouco e, às vezes, me divirto.
(obs: os nomes foram mudados para evitar constrangimentos...mas que a voz de Estela era de gralha, ah sim, isso era!)

quinta-feira, abril 14, 2005

Homenagem...mais que merecida.

Por estes dias, fui presenteado com uma das mais belas cenas deste mundo. Uma pessoa, uma mulher, branca qual o quê, dormindo. E aparte toda e qualquer conotação sexual – o que não é pouco, pois se trata de uma mulher bela e seminua – a cena em questão foi tão avassaladora quanto o céu de Brasília. Invadiu minha vista e impregnou minha memória. Dormindo, frágil (apesar de sua indiscutível fortaleza) e segura em seu próprio mundo de sonhos, e sabe-se lá que sonhos! Dormindo, completa, serena, e mesmo pequena, ocupava todos os espaços vazios dentro de meu quarto e – como sou grato – de mim mesmo. Uma pessoa dormindo tende a tornar-se um espetáculo na medida em que se deixar dormir enquanto o outro a observa, sem se importar com seus roncos patéticos, com suas posições ridículas, ou mesmo com a comprometedora baba saindo tímida do canto de tão suaves lábios, donde pingava tão grande desejo. O ato de ignorar os olhos de um admirador, por ter plena certeza de sua própria completude, da segurança inquebrantável de seu mundo particular e de saber o quanto é fundamental ser, às vezes, só, irradia uma plenitude que, inevitável, mostrou o indispensável fio de luz no momento de dúvida e de escuridão. Meu quarto até agora está iluminado pelas cores de sua alva existência. Enfim, este texto é uma mera desculpa para homenagear esta bela senhorita, bem como o momento de nós dois (que me deu o solavanco necessário para que eu,...assim,...digamos,...deixasse de ser besta). Acho que ela não lerá minhas letras, mas enfim, que o peso destas linhas virtuais contemplem a mais-que-sustentável leveza de seu ser.

terça-feira, abril 12, 2005

O Brasil está fadado ao sucesso!

Outro dia, tive uma longa conversa com um grande amigo. Daqueles que não se vê há tempos, e que, no mais das coisas, temos a obrigação de botar a fofoca em dia, tricotar mesmo, como fazem os homens de verdade. Enfim, depois da seção “fulano-falou-tal-coisa...e cicrano-que-anda-traindo-beltrana...”, entramos na área de política e economia de nosso governo vermelho. Como bons historiadores, vomitamos conhecimento e argumentos dos mais concretos e fundamentados, observando as possibilidades, e, claro, localizando-as no tempo e no vento de nossas falas. Mas o fundamental foi minha reflexão acerca do que – quanta pretensão – posso chamar de minha geração: alunos razoavelmente preparados para um ensino superior, egressos de focos de movimentos estudantis, que tiveram que fazer uma terapia de quatro a cinco anos para que o cordão umbilical etéreo da trupe estudantil 60/70 fosse definitivamente cortado, e que passaram os olhos numas dúzias de pensadores mais ou menos bem intencionados, mas que hoje, são profundamente pessimistas quanto aos rumos de nosso Brasil-sil-sil. Mas esperem: não se trata do discurso fácil de um possível retardatário rebelde sem causa! Trata-se, antes, de uma estarrecedora – dada seu paradoxo – constatação: o Brasil está fadado ao sucesso! Ok, pedras e mais pedras...”O Thaiguinho surtou”, posso ouvir daqui. Mas é uma “acusação” séria a que faço a meu país. Acredito mesmo que os rumos de nossa economia estão direcionados para o sucesso – ou aquilo que nos pedem para acreditar que seja um sucesso –, fazendo com que, daqui a uns dez ou quinze anos, possamos ser chamados de filhos-de-uma-puta pelos nossos hermanos que, provavelmente, deverão ser sugados até o fim pelo Impávido Colosso. Daí o fadado! Acho que seremos os próximos filhos-de-uma-puta americanos.

Mas antes que alguém me venha com os argumentos mais convincentes, de que não é bem assim, de que minha visão é muito limitada, de que meus argumentos são fracos, de que meus declarados devaneios não são concretos, recomendo a leitura – maldição, lá vem o historiador babaca perguntar “o que foi que você leu?”, hehehe – de uma interessante matéria da Carta Capital (Economia: o enigma 02 de fevereiro de 2005 p. 8-18) que trata justamente de discorrer sobre nossa incapacidade de observar esta mística poética chamada de “A Economia”, com a visão de conjunto de que nos falam os incansáveis comentaristas políticos. De toda a sorte, acho legal a reflexão: e se o tal do Brasil der certo, lembraremos de nossos momentos estudantis, de quando era legal meter o malho na glória estadunidense?

quarta-feira, abril 06, 2005

Ainda hoje me perguntaram sobre o nome do blog. "Porque renúncia?". Enfim, segue a explicação. Poesia minha, de algum lugar em 2001...

EDITORIAL DE UMA RENÚNCIA

Renuncio agora e sempre
à toda brisa que não afaga
Renuncio longamente com força e fé
ao coito interrompido de um frio café
da perda de sentido daquilo que é.
Ao ser reprimido por quem não se espalha

Renuncio sim àquilo que me falha a memória
aos meus vícios, meus ismos, minha falta de glória
Renuncio a tudo meu que não foi meu secreto
Renuncio ao meu insustentável
Renuncio ao meu discreto
e ao concreto que há em toda minha história

Renuncio às minhas falhas e minhas faltas de fala
Sobre muito renuncio ao meu ranger de dentes instruído
ao meu universo acadêmico construído
Renuncio ao poder em mim instituído
à minha língua viril que só me cala

Renuncio ao seu gozo se não for meu também
Renuncio por todos e por ninguém
e a quem sabe ser apenas o que era
Renuncio à minha besta fera
ao meu mar de lamúrias que ecoa por era
se ao esforço contínuo de barrar o outrem

Renuncio ao temer a minha dor
Renuncio à experiência do dessabor
e renuncio às minhas armaduras,
tanto quanto à, com pedras, minhas mãos armadas
Se ao peito minha morte anunciada
que suba à garganta o sangue e seu sabor

Renuncio à forma unitária
Incorporarei o paradoxo que me valha
E da alma não mais o corpo será subúrbio
O sonhar deixará de ser distúrbio
A loucura deixará de ser uma falha
Deixarei correr livre minha mente
Pois, às amarras
Renuncio agora e sempre

domingo, abril 03, 2005

O que quer Renato Aragão?

Não é de hoje que fico particularmente consternado em ver a figura de Renato Aragão na TV. Mas neste momento sagrado de ressaca dominical, não me furtarei ao dever de detratar a peça. Ainda hoje, ao meio dia, meus neurônios foram incitados ao homicídio ao ver na TV este senhor de idade travestido numa carapaça de garoto que – pelos deuses! – não convence mais ninguém. Será que não avisaram para ele que a geração Internet não mais se satisfaz com a visão de um velhote taradinho, cujas piadas retirou d’algum recôndito espaço perdido no tempo? Será que ele não sabe nada sobre as sitcoms? Esta caricatura de humorista devia se aposentar, e mostrar à criançada que há dignidade em envelhecer. Melhor, poderia mostrar que se a idade não trouxe sabedoria, deu-lhe, ao menos, perspectiva. Fico lembrando, com acertada dose de saudosismo, da infância da geração 80 – por acaso, a minha – que recebia de bom grado as piadinhas de duplo sentido daquela trupe de quatro saltimbancos, que se esforçavam em arrancar sorrisos da molecada, em meio a doses de cachaça – ops, desculpe a falha, de “mé” – do carismático mangueirense Mussum, e dos silvos da risada de Zacarias. Desconfio, hoje, que a dupla foi responsável por boa parte de minhas infantis gargalhadas; divididas, claro, com Chaves e Chapolin. E hoje, décadas depois, sinto náusea ao ver Didi com sua síndrome de Peter Pan e seus pavorosos acólitos, saídos, decerto, de algum filme de terror.

ps: haloscan a caminho, viu, Mandinha (hehehe).