editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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segunda-feira, setembro 26, 2005

Da escrita...

Há essas palavras que ressoam, há essas palavras que massacram os meus dedos a escrever, e a maltratar meus olhos a (ad)mirar a escrita. Há essa escrita que se não sai, grita. Há o grito da escrita como há o pulsar constante das veias por onde saem as palavras. Há essas palavras que ressoam.

E se me perguntarem, "por que escreves?", responderei numa questão, "por que respiras?", e esperarei que o confronto óbvio encerre este diálogo, pois há aqui dentro essas palavras que são uma turba a esmigalhar o há no caminho entre o pensamento e o papel, e que são uma urgência orgânica, como uma cólica que não pode esperar o alívio, e que são – se é que são – belas de se ver sair de mim.

Há essas palavras que ressoam e por conta delas sou mais humano, e por conta delas sou menos terráqueo. Há essa escrita a gritar, a sair, mas não posso culpá-las por qualquer alegria maior que a que emana da soberba. Aliás, alegria…, felicidade que seja, pouco se relaciona com essas palavras que ressoam, mas que, quando ressoam, penso se aproximarem da ironia. Ao menos disso eu gostaria.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Sobre os espaços...

Fui á pé atravessar o espaço que há entre um ser e outro, mormente confundido/conhecido como o abismo existente entre intenção e gesto. Tropecei, como de costume, mas não sei porque não caí. O normal seria uma queda, daquelas estaladas, cheias de algazarra e risos inconvenientes nos arredores. Tropecei, mas não caí.

Mais uma vez em minha vida olhei profundamente em olhos profundos, mas esqueci as regras eu mesmo que inventei – e que me inventaram na contrapartida: os olhos, reparem!, refletem, quando muito, a própria imagem de quem tenta dali retirar as informações negligenciadas pela ausência de um tradutor.

E que falta faz um bom tradutor. Um livro de regras, que seja! Manual de instruções ou qualquer coisa que o valha. Que falta faz falar a mesma língua que só à cada qual pertence, e que bom seria falar bem a minha própria. Que bom seria apresentar meu léxico e ouvir alhures, “Nossa, és também versado em thiaguês?”. Mas nem é assim que as coisas funcionam, nem verei esta meta alcançada antes que eu mude de idéia.

Que seja, fui a pé atravessar o fio de seda que une um ser e outro, e tropecei. Mas, trapezista que sou, não caí. Cambaleante estive, mas não é assim a vida?. Ao menos era, acredito, mas meu diário torna-se bestiário sempre que tento consultar as páginas idas, e um idioma ancestral, cuja grafia não passa de garatujas, cuja sonoridade é apenas audível aos cães, se interpões entre mim e o conhecimento que guardo há décadas.

O resultado? Não caí, mas tropecei no interregno que povoa a distância, no vácuo que preenche o espaço entre mim e ti.