editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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quarta-feira, abril 06, 2005

Ainda hoje me perguntaram sobre o nome do blog. "Porque renúncia?". Enfim, segue a explicação. Poesia minha, de algum lugar em 2001...

EDITORIAL DE UMA RENÚNCIA

Renuncio agora e sempre
à toda brisa que não afaga
Renuncio longamente com força e fé
ao coito interrompido de um frio café
da perda de sentido daquilo que é.
Ao ser reprimido por quem não se espalha

Renuncio sim àquilo que me falha a memória
aos meus vícios, meus ismos, minha falta de glória
Renuncio a tudo meu que não foi meu secreto
Renuncio ao meu insustentável
Renuncio ao meu discreto
e ao concreto que há em toda minha história

Renuncio às minhas falhas e minhas faltas de fala
Sobre muito renuncio ao meu ranger de dentes instruído
ao meu universo acadêmico construído
Renuncio ao poder em mim instituído
à minha língua viril que só me cala

Renuncio ao seu gozo se não for meu também
Renuncio por todos e por ninguém
e a quem sabe ser apenas o que era
Renuncio à minha besta fera
ao meu mar de lamúrias que ecoa por era
se ao esforço contínuo de barrar o outrem

Renuncio ao temer a minha dor
Renuncio à experiência do dessabor
e renuncio às minhas armaduras,
tanto quanto à, com pedras, minhas mãos armadas
Se ao peito minha morte anunciada
que suba à garganta o sangue e seu sabor

Renuncio à forma unitária
Incorporarei o paradoxo que me valha
E da alma não mais o corpo será subúrbio
O sonhar deixará de ser distúrbio
A loucura deixará de ser uma falha
Deixarei correr livre minha mente
Pois, às amarras
Renuncio agora e sempre