editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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quinta-feira, abril 28, 2005

Crônica para o amanhã, ou de como se deve abençoar um novo lar

Amanhã lavarei o chão de um novo lar. Escolherei sabão pelo aroma, e não pelo preço, da mesma maneira como fazemos com xampu e sabonete para o próprio corpo. Amanhã limparei o chão que pisarei – impiedoso que sou – até que meus caminhos fiquem grafados na ardósia verde. De tão verde que vou imaginar um mar da mesma cor, mais pelo carinho que se deve ter para com o próprio chão que pelo absurdo da comparação.

Amanhã, esfregarei um novo chão com semelhante cuidado ao que se costuma fazer com as costas de um bem – se bem houver! – usando não mais que a força necessária, mas se demorando no esmero. E quando terminar – isso é bobeira, eu sei! – deitarei na ardósia fria, nu se precisar, e pensarei ouvir Bethânia me sussurrando os versos do Vinicius, e estes dizendo, “seja leve, Thiago, deixe a bagagem lá fora”. Assim, quando mais tarde me procurarem visitar aqueles que são de visita, serei novo. E não simplesmente o “eu” de novo.

Deixarei no outro lar seus dissabores, bem como os sabores, que prefiro acreditar, foram muitos, foram mais. Amanhã, verei dentro dos olhos vazios, sem mobília, do outro lar. Um grande oco, mas pleno de um tal futuro. E lá, darei uma longa gargalhada para que, no eco, possa atestar o óbvio: há muitos, ao meu lado, a gargalhar comigo.