editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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quarta-feira, setembro 21, 2005

Sobre os espaços...

Fui á pé atravessar o espaço que há entre um ser e outro, mormente confundido/conhecido como o abismo existente entre intenção e gesto. Tropecei, como de costume, mas não sei porque não caí. O normal seria uma queda, daquelas estaladas, cheias de algazarra e risos inconvenientes nos arredores. Tropecei, mas não caí.

Mais uma vez em minha vida olhei profundamente em olhos profundos, mas esqueci as regras eu mesmo que inventei – e que me inventaram na contrapartida: os olhos, reparem!, refletem, quando muito, a própria imagem de quem tenta dali retirar as informações negligenciadas pela ausência de um tradutor.

E que falta faz um bom tradutor. Um livro de regras, que seja! Manual de instruções ou qualquer coisa que o valha. Que falta faz falar a mesma língua que só à cada qual pertence, e que bom seria falar bem a minha própria. Que bom seria apresentar meu léxico e ouvir alhures, “Nossa, és também versado em thiaguês?”. Mas nem é assim que as coisas funcionam, nem verei esta meta alcançada antes que eu mude de idéia.

Que seja, fui a pé atravessar o fio de seda que une um ser e outro, e tropecei. Mas, trapezista que sou, não caí. Cambaleante estive, mas não é assim a vida?. Ao menos era, acredito, mas meu diário torna-se bestiário sempre que tento consultar as páginas idas, e um idioma ancestral, cuja grafia não passa de garatujas, cuja sonoridade é apenas audível aos cães, se interpões entre mim e o conhecimento que guardo há décadas.

O resultado? Não caí, mas tropecei no interregno que povoa a distância, no vácuo que preenche o espaço entre mim e ti.