Os quereres
Mais uma poesia minha, de um momento inquieto de 2002.
OS QUERERES
Eu queria ser a metade do ser que eu sinto
Queria tornar-me meio daquilo que penso
Queria viver parte daquilo que minto
Ou mentir um terço daquilo que invento
Queria querer reinventar-me isento
De culpa ou dor que me arde por dentro
Por sentir o que penso e mentir para o instante
E supor de rompante o meu ser intenso
Eu queria falar metade que vejo
Queria ver metade que sonho
Queria gozar um terço do desejo
Ou desejar verdadeiro meu sorriso tristonho
Queria fazer a metade do intento
Intencionar a metade do feito
Queria na pele um afago perfeito
Queria em minh’alma o afago e o alento
Queria ser a brisa transformada no vento
E de vento a tufão, cúmulo da ventania
Mais extenso que as raias do pensamento
E no pensar se ver livre da agonia
De não ser sonho, mentira ou desejo
De não ser o que penso, o que sinto ou o que vejo
De não ter alento ou brisa sequer
De não saber reinventar um aquilo qualquer
De não ser o rompante, o instante ou o intenso
De não se dignar a ser aquilo que invento
De não ter mais tempo
De ser muito tarde
Para ser isento de não ser completo
Sendo agora a metade da metade da metade
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