editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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sexta-feira, março 03, 2006

Entre lembranças e esquecimentos...

Costumava colocar a cabeça para fora da janela, como costumam fazer os cachorros, quando comecei a andar de ônibus sozinho. Era o crepúsculo dos anos oitenta que, hoje sei, não fizeram o menor sentido para o mundo. “Mullets”! O que eram os “mullets”? Meu amigo Formiga usava, ele era o máximo. Outro amigo, o André, se parecia muitíssimo com o Leandro (o da dupla), mas era boníssima pessoa. De repente, éramos “os caras” mais unidos do colégio, e, pelas venturas do destino, o três mais baixos da turma. Éramos conhecidos como “Los três amigos”.

Eu me lembro, de tudo ou quase tudo. A memória. Lembro-me, por exemplo, de não me lembrar como poderíamos ter ficado tão amigos sem um motivo que fosse realmente singular. Súbito, poderia enfrentar os caras do time de basquete, evidentemente maiores, para defender a honra suprema de nossa famigerada trupe.

Lembro também do frio da escola, e do frio na barriga que davam, nessa ordem: Aristeu, o austero diretor que, todos sabiam, tinha enterrado o primeiro aluno do colégio sob as fundações da edificação; Ana Paula, a única menina loira que já tirou o meu sono. E lembro do gosto do salgado da cantina: uma massa “leve”, mal cozida, que envolvia uma salsicha, mal cozida, ladeada por pedacinhos de tomate, geralmente esturricados. Como assim esturricados? Nunca soube. Jamais saberei. Mas a memória...

Lembro também de ser tudo muito rápido. As coisas eram tão rápidas, as pessoas idem. Quando via, já havia. Geralmente, eu era o último a chegar na sala, o último a comprar o lanche da cantina, o último a escolher o tema do trabalho... o último a ganhar um “ploc” da Ana Paula; era uma sempre sensação de estar só no pátio, onde eu me deixava estar, me deixava ficar por último, na companhia apenas dos silvos nas árvores e do suspiro constante dos garoto que (eu tenho certeza), fora enterrado pelo Aristeu.

A memória.
A memória é um lugar, que por vezes visitamos. É um lugar aonde só se pode chegar de corpo presente.