editorial de uma renúncia

Do dia em que acordei e tive uma leve impressão de que nada era assim tão grave...

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sábado, janeiro 07, 2006

Pois que há este perfil...


E pois que é assim, mesmo assim, e não doutra forma que é, e que pensa: que há uma gostosura só em sofrer, às vezes baixinho sofrer, leve e aveludado sofrer com uma boa bossa-nova. E que há uma alegria indizível naquele olhar atravessado, daqueles em que cada coração pára um pouco e um compasso incomunicável liga este coração a outro, e como ritmados que estão, passam a bater como um samba-canção bonito. E que há um prazer inominável naquele suspiro, o inadiável suspiro, o suspiro que varreria ruas como um tufão, caso fossem, as camas do mundo, colocadas às portas das casas. E que sempre há aquela coisa que está já na minha língua, desde o início dos tempos está já em minha língua, mas que só sai quando do beijo me animo. E que sempre há este abraço quieto, este abraço calado, que faz chegar-se à mim somente o gosto de quem eu gosto, e que me deleito na hora amarga, por ludibriá-la com a lembrança de um corpo bom. E que sempre há um medo muito meu, e que por não ser de ninguém, digo, não te preocupas, vá! E que há este teatro de coisas belas, e que de belas, de fato existem, mas que antecipo por crê-las maiores do que Deus. E que há esta revolta incontida, esta raiva primordial de ter estas coisas comigo, e que grato as daria, mas que jamais serão compartilhadas. E que há, e sempre houve, e sempre haverá, este mundo onde me encerro, e que teimo em tentar fazer nadar outrem na superfície, mas que jamais permitirei o mergulho onde se se afoga. E que há esta mancha negra, e que é sangrenta e feita de mim, e que é barulhenta e composta de tanto eu, e que por ser erva daninha, tenho andado capinando as faces da minha vida, para que a tal da vida possa vir a ser até mesmo mais feliz.