Da série ErosGrafia
Teu olhar em mim
Daí que ela já não conseguia mais ver coisa alguma além dele. Todo ele. E vendo, já não era seu o seu olhar, como não é seu o olhar do espelho, posto que ele já também a fitava toda com o mesmo desejo. O olhar transformou-se, assim, o ato físico do toque, e como já passava a vista em tudo, a tudo absorvia a memória da textura.
Divisou seu corpo e o envolveu. Ficou de joelhos na frente dele, observando, sentindo aflorar, sentindo engrandecer, sentindo o macio dos pelos como se este corpo fosse o de um animal. Talvez o fosse no seu devaneio irresponsável, malicioso e magnífico.
E era um corpo nada esguio, nada atlético. Másculo o corpo dele não era, mas era um físico verdadeiro, ou o habitual corpo cotidiano. Era óbvio, e por conta disso, confortavelmente familiar. Quase todo flácido, mas teso, incrivelmente teso, na região da sinceridade. Este corpo de homem tão evidentemente humano... era o que a deixava sedenta, e pelo toque das vistas ela percorria a geografia irregular do ser masculino.
Um corpo multiforme, corpo de gente – odiava super-heróis – e por isso mesmo irrespondivelmente adequado ao seu prazer, todo ele compatível com o toque de seu olhar agora desfocado por sentir aproximar-se do momento do gozo. Um corpo seguro e satisfeito por ser apenas o veículo conduzido pelo olhar, e que, portanto, urgentemente desejável.
E quando este olhar tátil deu asas ao atrevimento sentiu o agradável volume na boca, que ia e que vinha, num bailar quase inocente – calmo e vagaroso – com a sua língua. Fechou os olhos, como que para absorver mesmo em sonho as delícias desta penetração sensitiva. Virou de costas e empinou a bunda, para dar justeza ao ato e permitir que Kundalini pudesse também beijá-lo com sua visão hipnótica.
Quando então – e finalmente – ele aproximou sua carne para sobre ela derramar o intento, e no ato belo derramar-se dentro, bem sabia: desde o primeiro olhar já habitava este interior.
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